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Mensagem do Capelão Militar

  • Publicado: Quarta, 29 de Junho de 2022, 13h46
  • Última atualização em Quinta, 30 de Junho de 2022, 14h05

Permitam-me iniciar a mensagem da capelania com dois fragmentos da Oração do Combatente de Caatinga que se inicia afirmando: “Senhor, Vós que fostes sábio ao criar os rios e os mares pareceis ter esquecido do nosso sertão”. A oração finaliza-se dizendo: “Obrigado, Senhor Deus, porque criaste um ambiente onde o ser humano comum não possa sobreviver, pois só os perseverantes e os fortes de espírito aqui conseguem lutar. PÁTRIA! BRASIL! SERTÃO!”[1].

Senhores meus, empenhados em grandes lutas a serviço da Pátria, vivemos também nós nesta gloriosa AMAN em “um ambiente onde o ser humano comum não pode (simplesmente) sobreviver, pois só os perseverantes e os fortes de espírito aqui conseguem lutar”. Graças a Deus, estamos vivos para testemunhar a transição do primeiro para o segundo semestre deste ano. E, como um presente de Deus, temos ainda o singular privilégio de empregar uma parcela de nossa vida, ocupados em forjar líderes de escol.

Estudos sugerem que, dos anos 60 aos 80, a liderança corporativa era uma questão de imposição coletiva, ou seja, o líder é o chefe e ponto final; e como tal estava destinado a ser aceito e reverenciado cabalmente por todos. A partir dos anos 90 até as cercanias de 2010, alguns manuais técnicos já registravam uma mudança: o líder passava a ser visto como alguém necessariamente capaz de provocar certa admiração artística aos seus pares e subordinados, rodeado pela aura do renome e do sucesso com sacrifícios heroicos, servindo de padrão e modelo para a ascensão profissional dos demais funcionários de uma empresa. Ao menos conceitualmente, assim explicam o despontar dessa figura meio hollywoodiana do “leader”.

Dotado de uma presença carismática e exaltada, quanto mais alto estivesse na hierarquia da empresa e quanto mais elogios recebesse dos superiores, maior seria seu halo de fascínio, classificado assim como “liderança exemplar”, um patamar típico de sucesso, então cobiçado por pares não tão sortudos.

Nas últimas décadas, entretanto, com o agravamento da “crise ética” no campo das lideranças, sobretudo aquelas políticas e sociais, e com o aumento da cobrança da empatia universal de quem está à frente de um grupo, a liderança entrou numa espiral de complicações técnicas. Altas demandas de melhorias de comunicação na esfera midiática, qualquer líder passou a exigido como alguém altamente capaz de inspirar, motivar, entusiasmar e marchar à frente dos seus rumo à sucessivas vitória... e somente se for bem sucedido nesta motivação à frente de seu grupo, mediante uma liderança comprovada em habilidades de oratória, poderosas amizades, números estatísticos de significativas melhorais e resultados palpáveis, só então, após tanto empenho, marketing pessoal ininterrupto e resultados notórios e aplaudidos, poderá se dar ao luxo de se considerar um “autêntico líder”, deleite luxuoso para um número excepcionalmente reduzido de homens e mulheres no universo corporativo. O pico da montanha ficou mais alto e a escalada tornou-se quase sobrenatural.

Alguns de nossos cadetes já demonstram clara insegurança psíquica quanto ao fato de se perceberem ainda sem condições de atingir essa altura profissional, com níveis de cobranças e responsabilidades inauditas, sobretudo na sociedade midiática onde tudo é observado e julgado em tempo real pelas redes sociais, portanto, pesa sobre todos essa escala comparativa ininterrupta de liderança, quer âmbito local e regional, quer nacional ou global.

Em dias de atmosfera complexa, meus bons irmãos de farda, parece também emergir outra demanda, e das boas: a de que uma liderança mais autêntica precisa se apresentar com máxima humildade, clara simplicidade, sem vaidades, nem ostentação, sem soberba no olhar, com autoridade sempre muito atenciosa, acessível a todos, se possível sorridente e bem menos empombada, livre da pavonice e da megalice, duas doenças que atingem aqueles profissionais cujos cartuxos carecem de munição de talentos.

Atualmente, um líder deve ter consciência de que sua estrela pessoal já não brilha isolada no zênite do sucesso. Tanto é assim que, quanto um líder que se distancia simbolicamente de seus colaboradores, correrá o risco de cair da própria altura ou de naufragar em seus padrões particulares. O índice do risco aumenta se ele mesmo se considera uma especiaria rara ou um perfume importado. O líder das atuais expectativas comuns precisará, a cada amanhecer, descer do alto de sua própria grandeza, se ela existir, e fugir da tentação do status, pois em tempos como os nossos, ele já não conseguirá obter aquele sucesso saboroso de outrora, uma vez que não há uma equipe contratada para o admirar em seu êxito particular.

Entretanto, parece que, graças ao Senhor dos Exércitos, a nossa profissão militar em solo pátrio, ainda não sente tantos os efeitos dessa variação conceitual a respeito da liderança. É quase certo que ainda desfrutamos, no meio castrense, de certa estabilidade. Isso se deve, provavelmente, à manutenção do vigoroso espírito de liderança autêntica, simples e direta, baseada no exemplo de profissionalismo e na experiência da carreira de cada Oficial, comprovada em tantas missões exitosas.

Uma coisa, enfim, tenhamos por certa: uma liderança profissional permanecerá sólida e útil em nossos dias se, e somente se, for autêntica e transparente, humilde e sempre atualizada. Toda inautenticidade fará evaporar/evanescer, já nos primeiros minutos de fala, o crédito de uma chefia. O resto será apenas mudança de cores em distintivos, será questão de nomes e datas de passagem de comando.

Liderar bem o capital humano de cada equipe aqui representada é o que há mais urgente aqui, nesta Casa de Valores, nesta Forja de Líderes. Exerçam, senhores, uma liderança acessível, humilde, franca, despretensiosa, corajosa e lúcida. Neste campo, podem contar com a oração e o apoio fraterno de seus capelães, pois rezamos sempre pelo êxito individual e coletivo de cada militar.

Obrigado, mais uma vez, pela atenção. Abençoada semana a todos e que Deus lhes abençoe com saúde e paz.

 

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