Valorize o que você tem

É atitude de grandeza moral ser grato pelo que somos, pelo que temos e pelo que fazemos. Ao mesmo tempo em que agradecemos o que vivemos até aqui, devemos alimentar em nosso íntimo a gratidão diante do presente. Este exercício diário é potencial gerador de satisfação pessoal, tão necessária para uma boa qualidade de vida. Sabe-se que a insatisfação furta o anímico de qualquer indivíduo, levando-o à perda da motivação para realizar desde coisas pequenas e rotineiras àquelas mais desafiadoras da capacidade criativa. Muito da diminuição do desempenho nas atividades físicas e/ou intelectuais, da baixa produtividade nos resultados e da redução da capacidade de tomar decisão encontra na insatisfação o seu motivo gerador. O homem experimenta o amargo gosto da insatisfação quando julga que as suas necessidades ou expectativas não foram satisfeitas, o que, de fato, em muitos casos, pode ser real. No entanto, em grande parte, o problema não está na satisfação de necessidades, mas na distorção das expectativas. Cria-se um modelo ideal de vida, realização, prazer e felicidade que não resiste à realidade. Insiste-se em projetar este modelo quase fantástico nas expectativas, gerando sempre a frustração.

Olhar a realidade com gratidão, reconhecendo cada dádiva recebida, ainda que não seja o ideal desejado, ainda que existam lutas e dificuldades, é um instrumento que auxilia o indivíduo a adaptar-se aos recursos que a vida lhe oferece. É preciso valorizar o que se tem para, a partir daí, buscar-se o crescimento. A realização pessoal e o bem-estar são construções que se dão passo-a-passo. Devidamente autorizado, gostaria de compartilhar uma experiência que ilustra o que acabei de falar. Há alguns dias, atendi uma Cadete que vinha demonstrando certo desânimo em suas atividades acadêmicas e na vida pessoal. Era característico um olhar sem sentido para tudo que fazia. Havia um profundo senso de insatisfação que a levara a muitos questionamentos. Viver a academia tornara-se uma subida muito íngreme e pesada, que parecia já não ter muito sentido. Tudo isto era agravado por questões familiares muito particulares, que acabavam tornando todo o cenário ainda mais acinzentando. Mas, um acontecimento parece ter virado a chave no olhar daquela jovem cadete sobre a sua realidade. Num domingo, enquanto os Cadetes entravam em forma para avançar ao rancho no almoço, ela viu alguns jovens que prestavam o concurso da EsPCEx a observar-lhes com um brilho de admiração no olhar. Segundo a cadete, era possível perceber o que todos aqueles jovens estavam pensando: “É ali que eu que estar um dia!”. Foi quando, numa experiência quase mística, a Cadete recobrou a razão e reconheceu que, no fundo, sofria de ingratidão. Percebeu que não há porque viver a reclamar das dificuldades próprias da Academia, quando elas fazem parte do grande privilégio que é ser cadete, futuro oficial do Exército Brasileiro. Quantos jovens gostariam de estar subindo aquela mesma ladeira íngreme?! Assim ela pensou.

Pois bem, na vida temos inúmeras experiências que nos geram desconforto, situações que julgamos não serem as melhores para nós, momentos que nos levam a reclamar de tudo e a não perceber sentido em nada. Se dermos espaço em nossas mentes a estas primeiras impressões, a ingratidão nos dominará e furtará a nossa disposição. O melhor a se fazer nestas horas é mudar a perspectiva da visão, cultivar a gratidão, reconhecer que a realidade não é o ideal que, muitas vezes imaginamos, mas podemos fazer dela o melhor possível, desde que a aceitemos e nos disponhamos a reagir a ela. Sejamos sempre gratos não só pelo que já se foi, mas também pelo que ainda é; não só pelo passado, mas também pelo presente; não só pelas facilidades, mas também pelas dificuldades. Como escreveu São Paulo: “Deem graças em todas as circunstâncias, pois esta é a vontade de Deus para vocês em Cristo Jesus” (1Tessalonicenses 5.18).

Que Deus nos abençoe!

 Pr. Emérson Couto Profírio

Capelania Militar da AMAN