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Vozes de Conciliação

  • Publicado: Segunda, 10 de Janeiro de 2022, 13h43
  • Última atualização em Segunda, 10 de Janeiro de 2022, 13h43

A vida em sociedade é algo profundamente necessário e enriquecedor para o indivíduo. Como disse o filósofo inglês Thomas Morus: “Nenhum homem é uma ilha”.  As relações interpessoais desde a família, primeira sociedade na qual o homem se humaniza e aprende acerca da interdependência, até o país, a grande sociedade nacional que agrega pessoas de vários contextos socioculturais unidas sob a égide de uma constituição, passando pelas sociedades de interesse comum, como os grupos religiosos, clubes, sociedades filosóficas, escolas, empresas e outras corporações, a exemplo das Forças Armadas, são relações que oferecem segurança física e afetiva aos seus integrantes. O homem é um ser gregário e carece do seu semelhante a fim de desenvolver e aperfeiçoar as suas habilidades humanas. Desde tempos longínquos ele compreendeu que é em comunidade que a manutenção da espécie e a sua perpetuação frente aos perigos se dá.

Diante desta constatação, numa ação quase instintiva, o homem busca associar-se àqueles com quem terá o máximo de afinidade e interesse comum. Contudo, esta vida comunitária reserva desafios aos seus membros, pois ao mesmo tempo em que se busca segurança nos grupos, aprende-se que para tal faz-se necessário abrir mão de boa dose da autonomia. Segundo Zygmunt Baumann, filósofo e sociólogo polonês, professor emérito da Universidade de Varsóvia, a palavra comunidade sugere senso de pertencimento, proteção e segurança ao mesmo tempo em que implica em perda de liberdade. Para se viver em sociedade e gozar dos benefícios protetivos da ordem fraterna todos precisam se dispor a pagar o seu “pedágio”, entendendo que a manutenção desta ordem social exige submissão a princípios gerais e não individuais ou particulares. Descobre-se assim que viver em comunidade é bom, mas não é fácil.

Todo convívio contínuo traz consigo um desgaste natural. A manutenção da vida em sociedade exige a compreensão das partes de que mesmo pessoas que se respeitam e militam pelo bem comum podem, em algum momento, divergem na forma como enxergam um mesmo assunto ou como resolveriam um mesmo problema. Ainda que pensem no melhor para todos, aqui ou ali, os pontos de vista podem conflitar e gerar discussões. Esta realidade é muito bem exemplificada no convívio do lar. Creio que não precisamos empenhar muito as nossas memórias para lembrarmos quantas vezes nos vimos em discussões acaloradas com os nossos cônjuges por temas em que ambas as partes pensavam ter a melhor solução. Certamente recordamos de momentos em que apresentamos, até com certa aspereza, os nossos argumentos aos nossos pais diante daquilo que julgávamos ser o melhor para nós. Em quaisquer destes exemplos as partes nutriam respeito e amor umas pelas outras, o que não blindou os relacionamentos dos embates. Ao menos uma coisa é certa, onde há intimidade há desgaste.

Esta realidade é presente em qualquer grupo social, ainda que em alguns grupos isto seja mais controlado por intermédio de regulamentos ou códigos legais mais rígidos. Contudo, o convívio é mesmo impositor de desgastes. Diante de uma situação semelhante a esta, ao saber da discussão entre duas irmãs da antiga cidade de Filipos, localizada na Macedônia, São Paulo escreveu: “Irmãs Evódia e Síntique, peço, por favor, que façam as pazes como irmãs no Senhor. E a você, meu fiel companheiro, peço que ajude essas duas mulheres. Pois elas, muito trabalharam pelo evangelho” (Filipenses 4.2,3). O santo apóstolo apelou a uma voz de conciliação no meio do conflito. A tensão que nasce da intimidade não fala do caráter dos envolvidos. O conflito natural não diz necessariamente que estamos diante de uma pessoa boa e de uma pessoa má ou diante de uma vítima e de um culpado. No entanto, frente a esta situação inevitável, precisamos sempre exercitar a habilidade da conciliação. A capacidade de dirigirmos a situação com equilíbrio na direção do acordo. Nestes momentos de divergências nos quais as arestas de ambos começam a chocarem-se umas às outras, urge uma voz madura, um espírito de arbítrio apaziguador.

Se o conflito de visão é inadiável no percurso da longa convivência, é igualmente imprescindível a disposição para a conciliação, a voz branda do discernimento que leva à harmonização entra os envolvidos. O olhar que rompe a fronteira da vontade pessoal para enxergar a situação pela ótica do outro. A ação pacificadora que põe de volta a paz aos relacionamentos. O sábio Salomão escreveu: “Como o ferro com o ferro se afia, assim, é o homem com o seu amigo” (Provérbios 27.17). Viver em comunidade é bom, mas não é fácil. Todavia, onde há vozes de conciliação encontrar-se-á sempre um verdadeiro espírito de corpo que alicerça uma comunidade forte de membros maduros e relações saudáveis. Que sejamos, pela graça de Deus, sempre estas vozes de conciliação. Que sejamos verdadeiros mantenedores da paz em nossas comunidades.

 

“No bom combate da fé!”

Pr. Émerson Couto Profírio – Cap

Capelão Militar da AMAN

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