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Mensagem do Capelão Militar

  • Publicado: Quinta, 28 de Abril de 2022, 13h49
  • Última atualização em Quinta, 28 de Abril de 2022, 13h58

Parabenizando ao Corpo de Cadetes pelo sucesso do Desafio Agulhas Negras que coroou o aniversário de nossa querida AMAN e à nossa Infantaria pela singular vitória no concurso de Ordem Unida de 2022, pensemos na combinação de quatro elementos: espiritualidade, trabalho saúde e psicologia, pois o 1º de maio, celebrado como Dia do Trabalhador, aproxima-se veloz. Estes quatro temas são interdependentes e geralmente abordados em conjunto no campo do comportamento organizacional positivo.

Chamou-me recentemente a atenção o fato de que o bem-estar laboral se ter convertido em objeto de comprovações científicas bastante sérias, através de refinados mecanismos de estatística em inteligência artificial avançada. Pouco mais de duas décadas de pesquisas já tornaram possível, também graças aos avanços da Psicologia do Trabalho, medir a coesão de um grupo de cooperadores em instituições de grande porte.

Já é possível afirmar que a coesão grupal aumenta exponencialmente de acordo com o nível de espiritualidade de seus integrantes. Parece ser um ressurgimento do famoso “ora et labora” da regra de São Bento, vivida por mais de dez séculos seguidos nos mosteiros beneditinos e agora tem a sua eficácia novamente comprovada.

Trabalhar sob motivações superiores e dignas do ser humano toca nossa liberdade, cumula-nos de grandes anseios e impulsiona-nos a viver mais nobre das aventuras: viver com sentido pleno, viver em abundância. Dante Alighieri, o poeta italiano de grande renome pela Divina Comédia, chegara a mencionar a tremenda baixeza daqueles que trabalham com alma de mercenários, quando escreveu: “Todos tiveram a mente tão ofuscada pelo amor às riquezas na vida terrena, que não usufruíram nada com equilíbrio.”

Em busca, portanto, deste equilíbrio no usufruto do trabalho feliz, é possível definir claramente e bem medir com racionalidade os diversos fatores que concorrem para a manifestação do bem-estar no ambiente de trabalho, guiando-nos além das sendas do dever e superar, com serenidade, a mera fadiga física. Quem trabalha principalmente por motivações remuneratórias jamais entrega valor agregado naquilo que faz, não se preocupa em como vai a imagem de sua instituição [1]. Aliás, a lamentação do “Eu não sou pago para isso” sempre sai bem caro para as instituições e atrai doses de fracasso profissional para qualquer operário.

O bem-estar laboral pode ser entendido como a conjuntura que alimenta a vontade de se comprometer na vida profissional sem cair no pânico do sucesso rápido, estendendo-se pela vontade de se sacrificar sem chorar e de empregar a própria vida em uma profissão que tenha sentido, que valha a pena, e que redunde, ao fim, em benefícios plurais para sua gente e sua pátria. Pensar em bem-estar laboral é uma urgência para nosso meio militar, especialmente em tempos de paz. Deste modo, também nós, seríamos favorecidos por essas “estratégias mais eficientes de promoção do bem-estar no contexto laboral” [2].

Foram criadas quatro escalas para auferir as dimensões da espiritualidade no trabalho, associada ao sentido vital do labor cotidiano e aos sentimentos de pertença à instituição/empresa, onde o indivíduo presta seu serviço. Essas quatro escalas, filhas da ciência, predizem positiva e significativamente a satisfação de “alguém” e de uma “equipe” no seu trabalho, o grau de comprometimento organizacional afetivo, bem como os afetos positivos dirigidos ao ambiente laboral e aos pares ali empregados.

A melhor notícia que dá gosto oferecer aos interessados consiste no seguinte: quanto mais as necessidades motivacionais e espirituais são satisfeitas pelas práticas profissionais no ambiente de trabalho, maior será desenvolvimento afetivo do trabalhador no rendimento da labuta diária, maior será seu senso de progresso pessoal através do labor cotidiano e mais ampla será a sua ligação existencial com a organização na qual ele vive profissionalmente os seus sucessivos anos de trabalho.

Não se trata, portanto, de fazer o subordinado “render mais por menos custo”, mas de garantir-lhe mais felicidade no simples “trabalhar com propósito”. Propósitos nobres, diga-se de passagem, são a riqueza mais abundante que temos no Exército Brasileiro. Basta-nos resgatá-la diariamente em nossa oração cotidiana!

Todo isso interessa deveras aos componentes do meio militar porque, meus caros amigos, a nossa cultura militar coloca-nos hoje em união de propósito, de visão, de missão, de tradição, de estatutos, de normas, costumes e práticas, que se consolidam e geram nosso padrão de vida cultural. [...] Se devemos e se queremos proteger essas habilidades e esses valores inegociáveis, precisamos também nos munir da armadura de uma espiritualidade sólida, sob o risco de, na falta desta, presenciarmos a erosão de partes essenciais da profissão”. Uma coisa é a proposta de hierarquia e disciplina vivenciada entre homens com elevado nível de espiritualidade, outra é o mero repasse de ofícios, responsabilidades e deveres para os outros como se fosse “uma bola no jogo”, nos pés de competidores espiritualmente imaturos, o que soe ocorrer em qualquer ramo de trabalho honesto, inclusive neste nosso ramo. Durante o torneio da vida profissional, sempre estarão na arena de competição a nossa identidade e a nossa coesão, o ser e o agir! Então, é preciso reconhecer que tudo quando possa reforçar os nossos laços de profissionalismo e coesão merece a nossa atenção. Se for algo de qualidade e grátis, melhor ainda!

Precisamos pensar e, se for ocaso, valorizar as quatro escalas sugeridas pelas pesquisas em foco:

1. a escala de Espiritualidade no Trabalho;

2. a do Comprometimento Organizacional Afetivo;

3. A da Satisfação Geral no Trabalho; e

4. a escala dos Afetos Positivos dirigidos ao próprio trabalho sob nossa responsabilidade.

Esses ponteiros compõem, de modo interdisciplinar, uma bússola diferente e complexa a nos ajudar dentro dos pontos cardeais de nossa carreira.

Assim, ter uma alma viril, saudável e dedicada aos seus deveres, na feliz pela carreira abraçada, deve ser uma construção contínua dentro cada um de nós. Se vivemos em perene estado de construção, conheçamos melhor os planos de engenharia interior que nos favorecem uma melhor reforma estrutural.

Eis aqui, então, o lugar da espiritualidade vivenciada concretamente, sobretudo de modo pessoal/individual, que torna o trabalho algo muito mais vibrante e significativo.

Para resumir, basta-nos confirmar a seguinte experiência: qualquer subordinado saberá informar o quanto a falta de espiritualidade sólida provoca na mente e no coração de seu superior hierárquico. A recíproca também será é verdadeira: subordinados desprovidos de sentido existencial para viver e para trabalhar, serão uma “pedra no coturno” de quem os vier comandar. Quem não estiver psiquicamente de bem com sua profissão, deixará uma grave lacuna em sua vida pessoal e familiar.

Ora, dizem ainda os estudiosos, todo trabalhador deseja obter “a satisfação de necessidades e a realização de desejos individuais ao desempenhar seu papel na organização” [3]. Se isso acontecer, repercutirá positivamente na esposa e nos filhos que, em maior ou menor grau igualmente, estarão satisfeitos com a vida paramilitar que levam junto ao militar de carreira. Estudos empíricos também já mostraram que “a espiritualidade no trabalho constitui um preditor positivo de bem-estar familiar” [4].

Enfim, não se pode ser um excelente militar sem sólida espiritualidade pessoal de valores, sem ser um amigo firme na lealdade, um cidadão exemplar, um homem de prática religiosa levada a sério; jamais será um excelente militar aquele ser desprovido de uma clara identidade profissional serena e bem capacitada, alicerçada em valores espirituais de primeira grandeza.

É verdade que as pesquisas de opinião que valorizam as Forças Armadas dão-nos uma tremenda satisfação de utilidade pública, de bem-querer social, uma aura de heroísmo profissional da qual poucas outras profissões se podem dar ao luxo de desfrutar. Embora empolgante, tal aprovação social de pesquisas de opinião não nos basta em plenitude. O bem-estar laboral militar precisa vir acompanhado da sensação de vitalidade, bem-estar, progresso pessoal e sentido existencial. Que triste ver um militar que não se encaixa em sua função e apenas sangra, tristonho, ali onde foi colocado.

Então, existe esta realidade importante na vocação profunda de quem serve na AMAN, que precisa se manter firme a cada amanhecer: o bem-estar laboral. Não somos nem sentimentais, nem alienados, nem patriarcais, nem ideologizados. Nós somos o Exército Brasileiro e, dentro dele, somos AMAN, simples assim!

Se nos concentramos na vocação da AMAN trataremos de formar os Oficiais líderes e combatentes da Força Terrestre, com o máximo vigor de alma possível e maior fidelidade aos princípios inegociáveis de nossa profissão castrense. Isso requer uma dose extra de espiritualidade profissional. Para tanto, pactuemos que o bem-estar laboral deve ser alimentado por uma espiritualidade sólida e profunda em leituras especiais, engajamento mais consciente, com autoconhecimento e autoavaliação mais eficazes, em uma formação humana ampla, atingindo as fibras mais profundas do aparato psíquico e do amor profissional com o qual cada militar se torne um fiel “devoto herói do santo altar da Pátria brasileira”.

Caros líderes e amigos, coragem, esperança e fé! Deus lhes abençoe hoje e ao longo de toda a sua semana militar, livrando-os de todos os males e perigos para o corpo, para a alma ou para o espírito, dando-lhes muita satisfação naquilo que fazem e na função que Deus mesmo escolheu para cada um nesta AMAN.

 

DEUS SEJA LOUVADO

 

Padre Uyrajá LUCAS Mota Diniz - Cap SAREx

Capelão da AMAN

 

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