DA PEDRA BRUTA À PEDRA CÚBICA:

UMA ANALOGIA ENTRE O DESBASTE DA PEDRA E A FORMAÇÃO DO CADETE

     A AMAN, mantendo uma tradição de mais de duzentos anos, tem sido conhecida como a “Escola de Líderes” do nosso Exército. Este é um superlativo desafio ao qual empenho, disciplina e constante aprimoramento jamais faltaram a gerações de militares que por aqui passaram, deixando muito de si em cada um dos Cadetes de Caxias. A cada início de ano recebemos jovens, que desde o ingresso na Escola Preparatória até à entrada pelo Portão Monumental, são iniciados num processo de desbaste. Semelhante a pedras brutas, garotos e garotas do nosso Brasil passam a ser esquadrejados por hábeis mãos nesta casa. A cada novo dia, instrução, aula, campo e avaliação as toscas e ásperas formas vão sendo eliminadas, dando lugar a ângulos retos e superfícies planas. As pedras brutas vão, ao toque do martelo e do cinzel, ascendendo à luz do conhecimento, assimilando as virtudes e valores próprios da cultura militar, almejando chegarem à pedra cúbica, um paralelepípedo perfeito. À medida que este formato vai se apresentando, cada Cadete vai adquirindo as condições de ser assentado no grande edifício Exército Brasileiro.

     Desbastar uma pedra bruta até que ela chegue a ser uma pedra cúbica é uma nobre arte, que requer dos seus artífices grande habilidade, além de força e paciência. Ao olharmos para a nossa Academia e reconhecermos a sua missão, podemos compararmo-nos não apenas àqueles grandes artífices construtores que com habilidade, força e paciência trabalharam a rocha crua a ponto de transformá-la em belos e admiráveis edifícios, monumentos que são verdadeiras odes à engenhosidade humana, mas, também, àqueles artífices que souberam lapidar almas brutas e transformá-las em homens e mulheres maduros, hábeis no conhecimento das suas próprias virtudes e na capacidade de influenciar outros homens e mulheres. Somos artífices que lapidam jovens até que eles se tornem líderes.

     Não há dúvida que ninguém em toda a história humana foi mais hábil com o martelo e o cinzel do que o Cristo. Ele é um paradigma na arte de desbastar pedras brutas. Muitos daqueles que o seguiam eram pessoas embrutecidas pela vida, corações endurecidos pela falta do verdadeiro conhecimento. Com habilidade, força e paciência ele esquadrejava vidas. É emblemático que a um certo bruto e tosco pescador chamado de Simão, a quem o Cristo começara a desbastar, fora-lhe dado o nome de Cephas, que quer dizer “pedra”. Esta pedra desbastada veio a tornar-se o líder do colégio apostólico (O apóstolo São Pedro). Inspirados no Supremo Artífice, podemos extrair uma rica lição que nos ajudará a manejar bem os nossos martelos e cinzeis ao desbastarmos os nossos Cadetes: O artífice é, antes de tudo, um visionário.

     Enquanto todos veem apenas uma pedra crua, o artífice vê a obra pronta. Ele enxerga muito além da superfície suja, irregular, áspera e cheia de arestas. Há nele a capacidade e a nobreza de antever o resultado desejado. Ele exercita diariamente a habilidade de usar instrumentos pesados e rústicos sem fragmentar a pedra por inteiro. O seu objetivo não é destruir, mas construir. Ele luta contra a dureza da pedra, mas não desiste nem a rejeita. A sua missão é transformar pedra bruta em pedra cúbica. John Maxwell escreveu: “A verdadeira medida da liderança é a influência – nada mais, nada menos. O impacto da liderança aumenta de acordo com o aumenta da influência”. Os nossos Cadetes são pedras brutas. Eles não são hoje aquilo que se espera de Oficiais do Exército Brasileiro, possuem ainda a aspereza própria de quem está em formação, dúvidas, receios, questionamentos, medos, inseguranças, inabilidades, mas, sob o exímio trabalho de bons líderes, virão a ser pedras cúbicas de caríssimo valor. Cabe a cada um de nós e de todos aqueles que são responsáveis direta ou indiretamente pelas suas formações, sermos inspiradores de transformação em suas vidas, pedras que lhes servirão de alicerce sobre o qual eles edificarão belas e prósperas carreiras.

     Que Deus nos ajude!

“No bom combate da fé!”

Pr. Émerson Couto Profírio – Cap

Capelão Militar da AMAN