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Mensagem da Capelania Militar (Padre Lucas)_novembro

  • Publicado: Quinta, 01 de Dezembro de 2022, 11h07
  • Última atualização em Quinta, 01 de Dezembro de 2022, 12h35

RITUAIS DE SINTONIA E SINERGIA

Mensagem do Capelão da AMAN em 29 de novembro de 2022

"Quando tiverdes feito tudo o que vos mandaram, dizei: 'Somos apenas servos; e fizemos o que devíamos fazer'." Estas palavras de Cristo registradas nos sagrados pergaminhos do médico trazem à távola da memória o saboroso prato dos deveres, temperado como iguaria seletíssima ao paladar apurado das responsabilidades militares.

No despertar desta semana, ouvimos agradecidos o sussurro de nossa consciência de soldados: “Fizemos tudo o que devíamos fazer!”, pois, ao passarmos em revista à lembrança do recente Aspirantado, confirmamos a vivacidade profética do idealizador da AMAN, que escreveu: “As novas gerações educadas sob o signo de Caxias estão fadadas a construir o destino de grandeza do Exército, formando uma mentalidade homogênea de chefes que, a exemplo de seus antepassados, não permitirão o esquecimento das nossas nobres tradições militares”.

As memoráveis palavras do Marechal José Pessoa Cavalcanti de Albuquerque resumem, com excelência, a semana já pretérita, na qual evitamos o esquecimento das nobres tradições militares, outrora formuladas como norma de tradição. O ritual castrense materializou aquele parâmetro essencial da formação e da manutenção dos exércitos profissionais, conforme preconizado na clássica obra de Samuel Huntington: O Soldado e o Estado, cuja leitura segue recomendada a todo militar.

Fato inconteste, os nossos rituais acadêmicos ainda se mostraram pujantes e capazes de produzir uma sintonia e uma sinergia ímpares. Gerados nas brumas do idealismo militar do início
do século XX, dados à luz pelo ilustríssimo Marechal José Pessoa e cultivados com energia viril e máxima empolgação por nossos cadetes e seus instrutores, as liturgias da AMAN foram mantidas, década após década, pelos mesmos varões aqui forjados. A última solenidade serviu para comprovar os irrefutáveis prognósticos do engenhoso Marechal, que incluem os rituais importantíssimos da burocracia administrativa, das normas gerais de ação, dos variados treinamentos e gestos simbólicos de nossa profissão.

O filósofo e professor da Universidade de Berlim, Byung-Chul Han, escreveu interessantes páginas de antropologia, preocupado com o que ele chamou de “A PERDA DOS RITUAIS”. Para ele,
são os rituais, como ações simbólicas, que criam e mantêm unida uma comunidade, sem tanta necessidade de comunicação abstrata e documental, pois eles emergem como SIGNIFICANTES que permitem a uma comunidade específica reconhecer neles a sua própria IDENTIDADE e a PERTENÇA, de forma clara, imediata e referencial.

É interessante o seu alerta para dois fatos predominantes em nossos dias: a intensa comunicação sem comunidade definida, bem
como comunidades desprovidas de símbolos duradouros. Segundo ele, houve uma expressiva perda dos rituais sociais, desde as pequenas liturgias matrimoniais e familiares, até aos sinais institucionais mais antigos. No mundo contemporâneo, sedento de novidades e criatividade sem peias, onde a fluidez da comunicação é um imperativo irrefreável, os rituais que duram um pouco mais de uma década quase sempre são rotulados como coisas já obsoletas, hábitos arcaicos, solenidades desnecessárias, obstáculos dispensáveis, resquícios velhos de uma época de aparências cívicas.

Diante desse panorama, Byung-Chul Han faz uma pergunta fatal: o que a nossa sociedade nos reserva quando deixamos deliberadamente de salvaguardar os rituais de maior vulto? Para ele, o desaparecimento progressivo dos rituais, das etiquetas sociais da fina educação, das solenidades rigorosas e de ritos oficiais obrigatórios, traz consigo o desgaste veloz da própria comunidade, sua degeneração em seitas que se subdividem em grupinhos inexpressivos, clubes de auto referenciamento, liderados por algum pseudo iluminado, portador de interpretações parciais e exóticas da verdade, se é que a verdade ali exista e seja considerada.

Ademais, os “possessos de ideologias”, com efeito, pouco se importando com a verdade objetiva, dedicam-se a cultuar os quatro novos ídolos contemporâneos, a saber: opiniões, versões,
aparências e narrativas.

Consequência mais grave, segundo Han, é o fatídico enraizamento do materialismo agressivo e seco no pensamento e na linguagem de muitos, bem como a desorientação de indivíduo perdidos em meio à ascensão profissional e à busca desesperada de mero bem-estar. Desta forma, o indivíduo vira um átomo isolado, um egocêntrico que só fala de si mesmo e de suas preocupações imediatas, na típica e falsa propaganda pessoal. O materialismo e a desorientação, por força de sua gravidade psíquica, impedem que cada indivíduo se ponha a caminho, exteriorizando-se em paz e rompa as paredes do egoísmo que serve de jaula para o seu “eu”. Como se pode comprovar, trata-se da nova camuflagem do egoísmo revolucionário que desperta de seu sono, de tempos em tempos, sobretudo em épocas de crise do sentido.

Diante desta lúcida descrição da realidade, os senhores conseguem perceber a importância capital da solenidade que acabamos de celebrar, densa de simbologia, repleta de autoridades e pronomes de tratamento, de distintivos e precedências cerimoniais, baseadas em valores e tradições que ainda possuem sentido. Eis a seiva da instituição, o sangue visível do EB, visto em suas veias, fotografadas à flor da pele.

Portanto, vigiar sobre a vitalidade dos rituais é sinônimo de saúde psíquica de nossas instituições mais caras: família, religião, Forças Armadas e Pátria, porque o desaparecimento das formalidades e dos protocolos simbólicos explicanos muitas patologias do mundo presente e, sobretudo, a gravíssima erosão do convívio humano. Sem a ritualística e sem a simbólica, perderíamos o senso da vida e seu valor metafísico e sagrado.

Agradeçamos, portanto, ao Senhor dos Exércitos e parabenizemos os responsáveis pelo momento de vitória que jamais poderá ser subjugado por forças negativas ou contrárias. Deus saberá abençoar e recompensar aqueles a quem tributamos o bônus do êxito e Ele mesmo haverá de iluminar os principais decisores das solenidades vindouras.

Que o Senhor dos Exércitos, amante do ritual eterno que faz emanar das alturas tantas graças celestes, abençoe todos nós com sabedoria, saúde, vitórias e paz! Assim seja.

Muito obrigado pela atenção.

DEUS SEJA SEMPRE LOUVADO
Padre Uyrajá LUCAS Mota Diniz – Maj SAREx
Capelão da AMAN

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