Ir direto para menu de acessibilidade.
Página inicial > Últimas Notícias > Liderança Arte Inspiração Aprendizagem - Mensagem do Capelão Militar
Início do conteúdo da página
Últimas notícias

Liderança Arte Inspiração Aprendizagem - Mensagem do Capelão Militar

  • Publicado: Sexta, 03 de Março de 2023, 15h49
  • Última atualização em Sexta, 03 de Março de 2023, 15h49

LEARNABILITY

Liderança - Arte - Inspiração - Aprendizagem

Mensagem do Capelão Militar PADRE LUCAS

Alguém já viu algum soldado do Batalhão Agulhas Negras estudando uma Gramática de Latim no intervalo do almoço? Já ouviram um cadete do Curso Básico comentando as teses do último bom livro lido fora de sua área profissional? Já perceberam como alguns Oficiais Superiores cultivam um fecundo interesse por cursos acadêmicos, sem pretensões ao magistério? Já vi tudo isso! Já viram, porventura, um cadete, no último ano de sua formação, comentar sem tanta preocupação que ainda não desenvolveu um método pessoal de estudo senão decorar a matéria? Conhecem alguém que não lê um livro sequer há mais de um ano? Já viram algum amigo ou parente perder muito tempo em torno de um meme e nenhum minuto em busca de um tutorial? Acho que já vimos o suficiente de tudo isso!

Caros amigos, quando sintetizamos didaticamente que “a liderança é a arte de inspirar” (Gustavo Succi), evocamos dois conceitos já familiares: a arte da estratégia e a inspiração profissional. Entretanto, supomos que a formação de líderes e o exercício progressivo desta liderança aprendida pressupõe o constante aperfeiçoamento de capacidades antigas e a aprendizagem de novas habilidades, diariamente, da parte de quem pretende servir e comandar com êxito.

Os dois dentes de peçonha que envenenam qualquer vida profissional, familiar e até religiosa são estes: o “eu já sei fazer” e o “sempre foi feito assim”. Essa mentalidade mina quaisquer projetos de desenvolvimento pessoal ou coletivo. Lidera bem os demais quem sempre aperfeiçoa a si mesmo. Ao conhecer o caminho do sucesso eficiente saberemos guiar outros nas rotas árduas e íngremes que exigem traços de caráter e virtudes de resiliência, estoicismo e tenacidade.

Ora, ao lado dos conceitos de liderança, arte e inspiração, temos redescoberto um quarto conceito, amplamente divulgado e enfatizado nos últimos anos, capaz de despertar deveras o nosso interesse de formadores de jovens líderes e pais de famílias cujos filhos precisam de refinada educação. Longe de parecer uma novíssima moda intelectual, a mutação cultural hodierna, dotada de traços duráveis, inevitavelmente já se impõe sobre nós, viventes do século XXI. Os norte-americanos, na vanguarda de estudos de liderança corporativa, avançaram sobejamente nos estudos a respeito da learnability, a capacidade/habilidade de aprender, desaprender e reaprender. Tal capacidade, enferrujada em alguns indivíduos de nossa geração, mas útil em quem deseja manter a própria alma cultivável, consiste essencialmente em saber se adaptar ao novo e desenvolver rapidamente conhecimentos escalonados ao longo da vida. Esse urgente fator de desenvolvimento pessoal e coletivo revela-se como abertura radical à aprendizagem constante, ao gosto pelo pensamento e à produção de novas soluções em um mundo dinâmico e incerto.

Learnability não é, todavia, uma novidade absoluta, é apenas um enfoque premente. É um padrão mais útil de comportamento cultural desde o tempo das cavernas até aos nossos dias; é um estilo de vida que nos move ao sucesso, é o ponto de inflexão para a melhoria da gestão de pessoas e processos, é um valioso benefício para nossa liberdade de escolha, é um "local aprazível" para a alma de quem deseja, de verdade, evoluir.

Aqui, um alerta nos cairá bem: não se trata de conseguir menorizar assuntos novos! A força hercúlea de uma verdadeira aprendizagem é de outro naipe, sobretudo em épocas de paradigmas novos e complexos. O verbo aprender, depois do verbo ser, talvez seja o primeiro que mais vivenciamos desde o ventre materno, lá onde experiências inconscientes cimentam os alicerces de nossa futura personalidade; e, mesmo ao fim “desta longa estrada da vida”, cada um de nós ainda seguirá “morrendo e aprendendo”. Esta habilidade de continuar a aprender tem se tornado o capital pessoal e profissional mais valorizado. Empresas já não contratam simplesmente quem aprendeu a fazer algo ou tem um diploma emoldurado, mas quem também demonstra capacidade de aprender rápido coisas novas e a usar o que aprendeu de forma dinâmica e criativa na solução de desafios.

No mundo tradicional de 50 ou 40 anos atrás, havia um conteúdo fixo a ser passado, transmitido, acumulado, decorado. Quando mais se decorassem as coisas, quando mais o aluno “devolvesse” ao professor o conteúdo copiado da lousa, melhor aluno e mais destacado profissional se tornaria alguém. Claro está que informação é indispensavel e fundamental, mas esse modelo de conhecimento "acumulativo" teve mais sentido em determinado momento da história, quando educar consistia em transmitir e acumular dados, receber e devolver informações.

Indo  a um consultório, nenhum enfermo se sentirá seguro vendo seu médico pesquisar no Google para descobrir onde se localiza o fígado ou o coração do desafortunado paciente, ou talvez para lembrar o nome de um remédio causador de graves efeitos colaterais. Conhecimento seguro envolve certezas imutáveis. Mas a obra do polonês Zygmunt Bauman deixa claro que  vivemos em um mundo líquido, no qual passamos a lidar com um amplo saber que não tem mais forma tão definitiva, um saber que se transforma a todo instante, tanto na quantidade quanto na intensidade. Deste modo, um líder precisa saber lidar, em pouco segundos, por exemplo, com uma informação midiática ou um problema inesperado e impactos diretos em seu campo de responsabilidade ou jurisdição... desafios que pouco tem a ver, de início, com aqueles conceitos decorados nos bancos escolares.

Deste modo, conhecimento liderança não formam mais um binômio no sentido de que “quanto mais conhecimento tiveres, melhor líder tu serás...” No mundo corporativo, preza-se mais pelos resultados motivados por um líder sintonizado e operante do que por suas ideias e projetos demasiadamente geniais. O paradigma é da criatividade ágil e da entrega eficiente, sem ruídos e sem moídos. Então, como sugere a pesquisadora Carla Tieppo: doravante “todo conteúdo só tem valor quando ele se torna o meio através do qual o indivíduo aprende um modelo de pensamento, um jeito de pensar” e de agir, com resultados variados e benéficos para o contexto vital e mutante no qual o indivíduo está inserido. Hoje, quem não faz a diferença rapidamente, vira figura caricata e obsoleta, dispensável e substituível.

Até o Bom Deus já percorre o caminho da learnability há alguns milênios, quando diz: “Eis que faço novas todas as coisas”. Não que Ele precise remodelar algo de sua infinita e eterna Sabedoria, mas, sim, porque Ele tem gosto pela revelação progressiva de sua única Verdade, no tempo e no espaço do coração humano.

Pensemos nisso para nosso próprio bem e progresso coletivo!

Enfim, peçamos Deus que abençoe nossas Olimpíadas Acadêmicas, protegendo nossos cadetes atletas dos maiores riscos e perigos, renovando em nossos corações aquela boa gana pelas vitórias na vida presente e aquela vibração necessária para alcançarmos a vida futura.

 

DEUS SEJA LOUVADO

 Padre Uyrajá LUCAS Mota Diniz – Maj SAREx

Capelão da AMAN

registrado em:
Fim do conteúdo da página