NEKIKEKAMEN! NÓS VENCEMOS! - MENSAGEM DO PADRE LUCAS - Capelão Militar da AMAN

“Ainda que a figueira não floresça nem a vinha dê seus frutos, a oliveira não dê mais o seu azeite, nem os campos, a comida;

mesmo que faltem as ovelhas nos apriscos e o gado nos currais: mesmo assim eu me alegro no Senhor, exulto em Deus, meu Salvador!

Este famoso fragmento do terceiro capítulo da profecia de Habacuque, um dos tomos do antigo testamento bíblico, mostra-se bastante adequado para motivar-nos nesta semana de labor. Brilham no belo texto duas expressões contrapostas e dotadas do pendor de despertar nossas motivações adormecidas em nossos afetos profundos. Ainda que... e mesmo assim.

Ainda que sintamos a falta de alguns meios não disponhamos das melhores conjunturas, mesmo assim trabalharemos confiantes. Ainda que várias instâncias não nos atendam a contento e fatores estressores não baixem a guarda contra nós, mesmo assim seguiremos firmes no cumprimento da missão, enriquecidos pela espiritualidade do bom combate. A cada “AINDA QUE” gritado pela vida, nós responderemos com um intenso brado “MESMO ASSIM, VENCEREMOS”. Para incutir-lhes este entusiasmo da esperança, o capelão relembra-lhes um apreciado episódio da história militar.

Em setembro de 490 a.C., numa planície distante, a leste da antiga cidade grega de Atenas, o ilustre General MILCÍADES, avisado do fatídico desembarque de um exército inimigo no continente, incumbiu seus militares atenienses de darem combate aos cruéis invasores e fazerem frente aos ímpios sanguinolentos e zoroastristas iranianos, herdeiros de Ciro, o Grande, os adestrados, numerosos e temidos persas. Os gregos combateram os persas de então, em um número significativamente inferior ao destes inimigos, na famosa Batalha de Maratona. E, por incrível que nos pareça, é interessante relembrarmos que os gregos venceram os persas após lutas eivadas sangue, fibra e heroísmo, cantadas e decantadas por Heródoto. Todavia, ainda movidos pelo calor do combate e pela alegria pela vitória, a maior preocupação dos gregos vitoriosos era a de que alguém chegasse em Atenas antes do pôr do sol do terceiro dia, porque, sim, os líderes guerreiros haviam combinado com os dirigentes da cidade de Atenas que, se estes não obtivessem nenhuma ciência de mensagem a respeito da vitória até o pôr do sol do terceiro dia, deveriam incendiar a cidade para que não ocorresse ser profanada pelos Persas, caso aqueles provocadores vencessem. Deste exato modo, os atenienses prometeram que o fariam, de forma a salvar, ao menos, o patrimônio móvel e portátil e, principalmente, e dar suficiente proteção às mulheres e crianças.

Os soldados gregos, enfim, escalaram urgentemente, ali mesmo no campo de batalha, um corredor velocista, que chamaríamos de atleta de longa distância, chamado FIDÍPIDES e o mandaram correr da cidade de Maratona até à bela Atenas, então célebre capital, para levar a boa notícia do retumbante sucesso. FIDÍPIDES, feito um louco, sai correndo exaustivamente, sabendo que lutava contra um ainda mais perigoso inimigo: o tempo escasso. Se sua corrida não fosse rápida o suficiente, Atenas ver-se-ia certamente destruída pelo fogo, em poucas horas, propiciando imensos prejuízos e tristes mortes. Quando chega em Atenas, FIDÍPEDES tem fôlego para dizer apenas uma última palavra em sua língua materna: “NENIKEKAMEN”, NÓS VENCEMOS. Para FIDÍPEDES este foi o seu último ato em vida, depois da corrida de 40 quilômetros1, sem permitir-se senão minúsculas paradas. Naquele mesmo instante, FIDÍPEDES expira e tomba morto, após cumprir uma das mais sofridas missões militares da história militar. Graças a esse herói obstinado e estoico, Atenas foi preservada, com todas as suas belezas, com suas bibliotecas, com todos os seus templos, sua filosofia, sua gente e seu futuro. Esse fato ainda é comemorado na famosa prova olímpica da corrida de 42 Km, a Maratona.

Caros amigos, talvez haja também um “NENIKEKAMEN” que marche desde dentro de nosso coração rumo aos nossos lábios, a ser pronunciado, finalizadas nossas atividades. NÓS VENCEMOS! Esse é saboroso brado a ser pronunciado ao final de cada uma de nossas jornadas, até porque todo fim de missão implica o começo de novas aventuras. Jamais tombaremos antes que essa palavra seja dia ao final de cada expediente: NENIKEKAMEN, NÓS VENCEMOS! Que nenhum de nós, militares, permita que o seu coração desfaleça, não antes de ter dado este recado interior ao mundo: “NÓS VENCEMOS”; este grito que ressoa nas areias do tempo, para que outros possam também, ao ouvi-lo, despertar para a alegria das vitórias.

Acreditemos, portanto, que nosso excelente serviço ao Exército e ao Brasil, precisa ser motivado pela sintonia nos mesmos princípios e pela vibração em torno dos mesmos valores, pois, sempre quando essa tonalidade verde-oliva toma conta de nosso sangue, podemos trabalhar melhor com aquilo que amamos e, assim, conseguiremos nos importar verdadeiramente com os colaboradores do bem comum que o Bom Deus dispôs para ombrear conosco.

Que o Bom Jesus Ressuscitado, nossa Páscoa, abençoe a todos, dando-lhes inteireza de coração e coesão profissional para trabalharmos com excelência a serviço da Pátria e de nossos patrícios. Abençoada semana a todos.

DEUS SEJA LOUVADO

Padre Uyrajá LUCAS Mota Diniz – Maj SAREx

Capelão da AMAN

[1] A distância percorrida por Fidípides foi de 40km e essa foi a distância escolhida pelo Barão de Coubertin para a Maratona Olímpica! Os 2198m restantes que existem a mais na Maratona, hoje em dia, foram acrescidos apenas nas Olimpíadas de 1908.