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Fé: o ponto de equilíbrio entre a guerra e a poesia- Pastor Profírio- Capelão Militar da AMAN

  • Publicado: Terça, 23 de Mai de 2023, 14h53
  • Última atualização em Terça, 23 de Mai de 2023, 14h53

FÉ: O PONTO DE EQUILÍBRIO ENTRE A GUERRA E A POESIA

 

No Salmo 144.1, o poeta sacro eleva aos céus a sua oração de gratidão pela proteção divina. Este mesmo poeta hábil em transformar vivências em canções fora desde muito moço iniciado também na arte da guerra. Ao mesmo tempo em que sabia manejar palavras, encontrando para elas o lugar certo entre notas e melodias, era destro soldado empunhando   espada   e   lança. Com a mesma precisão que transformava vocábulos em sensações que penetravam a alma, era certeiro atirador atingindo e abatendo o seu alvo. Este santo guerreiro, fazendo convergir ao mesmo ponto poesia e guerra, escreveu: “Bendito seja o Senhor, rocha minha, que me adestra as mãos para a batalha e os dedos para a Guerra”.

É curioso notar como duas pautas aparentemente tão distintas se aproximaram ganhando unidade e coesão. Poesia e guerra, delicadeza e aspereza, conceitos antitéticos conciliados numa só mente, num só coração. Quando hoje constatamos tão pouca habilidade nos homens em lidar com situações divergentes na vida, momentos e palavras que parecem mutuamente excludentes e, por isso, provocadores de crises, cabe-nos uma reflexão sobre a habilidade do salmista que o levou a conviver entre o riso e a dor sem perder a sua sanidade. A gestão das tensões é uma ferramenta de alto valor para todos, mas, ouso dizer que é ainda mais essencial ao militar, pois ainda que envolto no conflito, quando lhes são privados recursos e a sua vida e dos seus subordinados veem-se em risco eminente de morte, é preciso manter-se em equilíbrio a fim de tomar a melhor decisão.

Foi possível ao soldado poeta viver no ambiente hostil das contradições humanas mantendo-se apto ao serviço porque ele encontrou um ponto de convergência no qual os conflitos foram mitigados e as tensões arrefecidas. O ponto catalizador entre a vida e a morte se chama fé. Porque em nada a sua técnica militar foi superior à sua destreza espiritual é que ele estava em condições de guerrear até o fim em busca da paz, mesmo que isto significasse o sacrifício da própria vida. Não é porque guerra é coisa de soldado que o soldado deve ser um homem de conflito, pelo contrário, como disse Sun Tzu: “O bom guerreiro não é belicoso, o bom guerreiro não se enraivece  aquele  que  conquista  o   inimigo   não   tripudia   sobre   ele”   (A   Arte   da Guerra).

A guerra não é a exaltação da violência, mas o máximo empenho pelo estabelecimento da tão elevada e valiosa paz. O soldado é um homem de fé, pois a fé lhe possibilita ter sempre o recurso da esperança, do olhar para caos e transcender as frias barreiras das limitações por ele impostas. A fé sempre esteve entremeada às atividades militares. Desde os primórdios da guerra, quando guerreiros não se lançavam aos seus combates sem antes buscarem a proteção divina por  intermédio dos seus sacerdotes,  até os exércitos profissionais, que sempre se fizeram acompanhar dos seus capelães, a fé tem-se mostrado uma relevante arma que confere resiliência, tenacidade e sentido em meio ao conflito. O homem de fé sabe que o mal deve ser resistido e que o pacifismo, pelo motivo alegado de que uma vida jamais pode ser tirada, converte-se numa forma de omissão, e que erros por omissão são tão graves quanto erros por comissão, conforme escreveu Norman Geisler.

A fé é uma entidade que, longe de alienar o soldado, faz firmar os seus coturnos no terreno sólido da realidade sem, contudo, impedir que ele imagine o sabor da vitória antes que esta se realize. A fé o leva a manter-se equilibrado nas tensões. É por isso que devemos sempre estimular a que todos os nossos militares aprimorem a sua fé e não permitam que a rotina sempre corrida da nossa Academia furte de cada um os momentos de exercício de fé. Zelemos sempre pelo aprimoramento técnico-profissional, acadêmico e físico do nosso público, mas esforcemo-nos com o mesmo zelo pelo aprimoramento espiritual dos nossos subordinados. E que o Senhor dos Exércitos continue a adestrar as nossas mãos para a batalha e os nossos dedos para a guerra.

 

 

“No bom combate da fé!”

Pr. Émerson Couto Profírio – Cap

Capelão Militar da AMAN

 

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