Ir direto para menu de acessibilidade.
Página inicial > Últimas Notícias > Solilóquios da Liderança- Mensagem da Capelania Militar
Início do conteúdo da página
Últimas notícias

Solilóquios da Liderança- Mensagem da Capelania Militar

  • Publicado: Segunda, 15 de Abril de 2024, 16h35
  • Última atualização em Segunda, 15 de Abril de 2024, 17h02

Mensagem do Capelão Militar Padre Lucas, Capelão da Academia Militar das Agulhas Negras

“E o Senhor Deus disse a Salomão: Já que esse é o desejo de teu coração e não me pedes nem riquezas, nem tesouros, nem glória, nem a vida de teus inimigos, nem uma longa vida, mas me pedes sabedoria e inteligência, a fim de bem governar o povo do qual eu te fiz rei, pois bem, a sabedoria e a inteligência dou-te, mas também riquezas, tesouros e glória...”. II Livro das Crônicas 1, 11-12a

Eis o relato de como Deus concedeu ao Rei Salomão, filho de Davi, a grande sabedoria para liderar seu império e mais tantas dádivas a reboque. Percebemos, ademais, que Salomão, após pensar diligentemente, soube fazer a escolha acertada, a oração agradável, o pedido perfeito. Eis aí, bem escondido, um segredo bíblico de alto valor para líderes de escola.

Como auxiliar da oração, existe um mecanismo psíquico de autoconhecimento, indispensável para a obtenção do êxito e do amadurecimento pessoal. Trata-se da autorreflexão, não a partir da “DOXA”, a opinião alheia, mas da “ALETHEIA”, a verdade percebida pelo intelecto.

Esse movimento da autorreflexão foi elevado à máxima expressão literária por Santo Agostinho de Hipona em duas obras clássicas. Na mais famosa, as Confissões, o grande Agostinho repassa a sua vida interior diante da Verdade onisciente de Deus. No segundo livro, Solilóquios, ele demonstra um magistral domínio do procedimento autorreflexivo em prol da maturidade, nas decisões da vida. Ele mesmo revelou o seu modus operandi na seguinte sentença: Escrevi, inspirado por meu zelo e meu amor, um livro para procurar a verdade sobre as coisas que eu desejava, sobretudo, conhecer, me interrogando e me respondendo, como se fôssemos dois, a razão e eu, embora eu fosse um só. Por isso, chamei este livro de ‘Solilóquios’”.

No teatro, essa técnica é utilizada quando um personagem fala consigo mesmo, expressando pensamentos e emoções em voz alta diante da plateia. É o típico monólogo, no qual o personagem, no palco, impressiona o coração e a própria mente. Solilóquio é, portanto, este bom hábito de conversar consigo mesmo, com coerência e lógica, honestidade e transparência.

Também nós, quantas vezes, no dia-a-dia, quer em voz baixa, quer no fluir dos pensamentos que velejam, entabulamos uma boa conversa interior, como se conversássemos com outro alguém diferente. Parecendo um sismógrafo interno, prestamos atenção, coletamos informações, levantamos perguntas, agregamos parcelas de verdade a um fato percebido, alegamos agravantes ou atenuantes de moralidade às ações e imaginamos as repercussões da decisão encetada. Ali nos vemos claramente como animais racionais. Este nosso saudável discurso interno, quando equilibrado e ético, coaduna nossas vivências e enfeixa nossas atividades em conceitos da lógica do real e segundo o bom senso.

E o que isso tem a ver com a nossa profissão e com a instrução de tantos Oficiais e Praças da Força Terrestre, futuros líderes do Exército da Nação, quando se encontram agora sob nossa responsabilidade formativa?

Ora, a inegável fragilidade emocional das atuais gerações, o medo tenebroso do fracasso que beira as raias do desespero, as inseguranças afetivas e a criatividade pouco flexível diante de processos decisórios importantes, sinais claríssimos da raridade de um sadio solilóquio!

Relegar a segundo plano o hábito de analisar prós e contras e abandonar a segundo plano a autocrítica são escolhas deveras arriscadas, cujos resultados não poderiam ser outros, senão o estresse persistente, a perda do sentido de viver e a crescente incapacidade de tomar decisões úteis e eficazes. A indecisão e a perplexidade afetam um número crescente de líderes familiares, corporativos e institucionais.

A preciosa arte da liderança pressupõe os hábitos de soliloquia. Prova disso são os líderes bem sucedidos que gastam longo tempo sozinhos e tomam suas decisões mais importantes somente depois do prolongado silêncio reflexivo. Eles pensam, refletem, recolhem o conselho de bons assessores e, batendo o malhete, como um bom juiz perante a balança da justiça, definem finalmente seu rumo, segundo as normas do bem viver.

Pode-se afirmar, então, com singular acerto, que o líder será tanto mais assertivo em suas decisões, quanto mais ele for capaz de praticar seus solilóquios, atingindo sua máxima perfeição se o fizer diante de Deus, com fé e orações.

A solidão do comando é, portanto, utilíssima nesse sentido, porque permite ao líder orientar-se bem na chefia, cujo retorno de prêmio ou castigo é sempre garantido. O líder precisa ser livre para pensar e decidir; mas inevitavelmente será escravo e prisioneiro das consequências que jamais tardam, quer tenha feito boas escolhas, quer tenha se esquivado desse gravoso imperativo.

Então, para edificarmos o sucesso em nossas encruzilhadas decisórias, relembremos aquelas quatro perguntas poderosas e tecnicamente fortes, capazes de conduzir pedagogicamente a nossa mente à sabedoria que descansa em nosso peito.

Primeira pergunta: Como eu agiria nessa situação se eu fosse um milionário? A resposta a esta questão silencia a pressão por obter dinheiro ou lucros vantajosos a curto prazo. Quantos conhecidos e amigos nossos, vítimas da cobiça e ambição, tomaram decisões pouco exemplares por se terem furtado a esse primeiro diálogo interior? “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro!”

Segunda: O que eu faria nessa situação se eu estivesse agora sozinho, em uma ilha deserta? Esta pergunta protege-nos do barulho da pressão social sobre o que vão pensar ou dizer acerca da decisão tomada. Esta preocupação excessiva com a opinião alheia impede-nos de abraçar as melhores alternativas disponíveis no momento. O líder preocupado demais com opiniões alheias, finda por trair e matar a verdade em seu próprio coração. Vide o trágico exemplo do antigo governador Pilatos!

Terceira: Como eu agiria nesta situação se eu estivesse a sofrer uma doença terminal, a poucas horas de minha morte? Essa potente pergunta liberta-nos da pressão de nosso próprio EGO, quase sempre iludido por achar-se grandioso e merecedor de constantes aplausos. Dentro de nós, mora um inquilino megalomaníaco, misterioso e, por vezes,  desleal. Que ele seja, pois, o primeiro a ser silenciado antes de importantes decisões!

E, por fim, a quarta pergunta: Qual seria a melhor decisão em tal caso, se eu detivesse certeza de que nesse projeto serei bem sucedido? A resposta reduzirá muito o medo do fracasso, inimigo limitante dos planos  audaciosos e ótimos. Sim, se o excesso de vibração alimenta a soberba e a demasiada prudência impede a inovação, o otimismo de um chefe profeta da vitória converte a sua liderança em oportunidade para transformar vidas e promover a felicidade coletiva.

Oremos para que o Senhor dos Exércitos derrame sobre nós as suas bênçãos, firmando-nos na paz e reforçando, a cada solilóquio nosso, a devoção pessoal ao bom serviço pátrio. 

Deus nos abençoe com sábias vitórias!

 

DEUS SEJA SEMPRE LOUVADO!

Padre Uyrajá LUCAS Mota Diniz – Maj SAREx

Capelão da AMAN

 

registrado em:
Fim do conteúdo da página