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Reforçar a Lealdade- Mensagem do Capelão Militar

  • Publicado: Quarta, 27 de Julho de 2022, 13h39
  • Última atualização em Quarta, 27 de Julho de 2022, 13h42

É com grande alegria que, irmanados e coesos, iniciamos mais uma semana de grandes missões em dinâmicas aventuras profissionais. A capelania deseja-lhes saúde, paz, coragem,
iniciativa e criatividade, na graça do Senhor dos Exércitos para cumprirmos plenamente nossos deveres e alcançarmos nossos objetivos comuns.

O Deus das vitórias ajude-nos ao longo de toda esta semana, protegendo nossas vidas e equipamentos e ampliando nossas habilidades e nossos recursos.
Meus senhores e amigos, vamos ao tema desta mensagem de fé e esperança: uma virtude que anda fora de moda no mundo corporativo, social, político e geopolítico é a
LEALDADE.

Coluna importante do código de honra do Cadete de Caxias e dos demais militares, a lealdade sempre aparece ao lado da probidade, como uma nobre irmã, gêmea ética e companheira inseparável.
Ademais, a lealdade emerge em nossos documentos institucionais como uma espécie de musa inspiradora da sinceridade e da franqueza; a expressão concreta do culto à verdade; a fórmula eficaz de fidelidade pessoal diante dos sérios compromissos impostos pela farda.

Vivendo a lealdade, evitamos o risco de falsear o nosso agir perante superiores, pares ou subordinados. Nada mais triste do que saborear uma amarga deslealdade, seja da parte de quem
nos comanda, seja daqueles que nos ladeiam ou de quem se faz de obediente apenas quando postados diante de nós ou em frente a uma plateia de semelhantes. A solidariedade de nossa missão exige, de todos nós, sem exceção, a mais plena e sincera lealdade mútua.

Como ensina o judaísmo rabínico: “A lealdade é um dos pilares que sustentam o real valor do homem”. Tanto isso é verdade que podemos relembrar o simpático conselho de um autor desconhecido
que escreveu:
“Tenha sempre por perto pessoas legais, mas priorize as leais”.

Em nosso Manual de Liderança, edição de 2011, aparece uma magnifica lista de oportunidades úteis para despertar, reforçar e aprimorar a lealdade na tropa: a camaradagem junto a pares e subordinados, a reciprocidade do trato honesto, o apreço ao EB e à OM, a boa vontade para com o comandante que “arca com a responsabilidade funcional de conduzir a Organização”, entre outras. E finaliza o tema com duas recomendações que julgo importantíssimas1 e, portanto, passo a ressaltar.

A primeira: a lealdade deve ser sempre conquistada por quem comanda; e a segunda: não existe coesão em um grupo no qual não reine primeiramente a lealdade, ou seja, onde faltar a lealdade, a plena confiança mútua, o grupo sofre um franco processo de desagregação, de erosão relacional, e a ração diária de desconfiança, bajulações, medos e joguetes, tornar-se-á o prato do dia. A confiança,
de fato, é o que saborosamente tempera e preserva a deliciosa lealdade!

A respeito da construção diária da lealdade, vale a pena lembrar que é somente no contexto da verdade que se pode ser leal e contar com leais colaboradores. No ambiente onde a verdade puder ser plena, nem puder ser dita com todas as letras, a lealdade também será enfermiça, parcial e aparente.

Valeria a pena lembrar, inclusive, um ponto da psicologia moderna que, como ciência,  tem feito incursões interessantes na literatura universal, descobrindo nas antigas mitologias,
nas tradições orais dos povos e na literatura infanto-juvenil de séculos recentes, resgates bastante ilustrativos. Alguns pesquisadores redescobriram algo nos manuscritos originais do
conto da Branca de Neve.

Ficaram surpresos ao perceberem que o autor não centrou suas atenções na mocinha envenenada pela bruxa e beijada pelo príncipe, detalhes secundários reforçados posteriormente pelo cinema americano. A história original, mais antiga, retrata e destaca, de fato, a relação da rainha madrasta com as verdades ditas por seu espelho mágico, símbolo de todos aqueles que nos trazem informações sobre o mundo e sobre a vida. Aquele espelho é o símbolo mais didático de todos aqueles que tem a missão de assessorar uma autoridade, um chefe ou um líder comandante. O espelho mágico do conto infantil representa os assessores em qualquer ambiente de trabalho ou em família.

Por duas vezes, (assim lemos no conto), a dita rainha pergunta ao seu espelho especial se havia mulher mais bela do que ela em todo o reino, ao que o espelho lhe responde que não, não havia. Até aí, tudo bem para o espelho, tudo bem para a rainha, tudo bem para a mocinha, para o caçador, os anões e a floresta encantada.

Em tudo reinava a ordem, a calma e a vida seguia. Até que, um belo dia, ao repetir a mesma pergunta a respeito da própria beleza, a rainha ouviu do espelho um “não”: a rainha, embora bela, não era a mais primorosa, já havia outra mais bela... já havia concorrente e alternativa.

Bastou ser informada pelo assessor, o espelho, que havia outra beleza invulgar e absoluta, tudo mudou de figura. Bastou a rainha ouvir o que não queria ouvir e da maneira que não apreciara ouvir e, então, o caos relacional passou a imperar. Embora fosse uma verdade  redonda, a vida de todos complicou-se ali: o espelho foi quebrado pela própria líder, a rainha enlouqueceu e decidiu eliminar vidas, um assassino foi contratado para uma execução cruel, a mocinha fugiu e perdeu-se, ...e segue a tragédia no reino da fantasia.

O “X” da equação, a moral da história, foi a sincera lealdade do espelho, cuja mágica essencial era simplesmente assessorar, com total sinceridade, a sua líder coroada. Refletimos muito sobre o modo como nos comportamos ao ouvirmos uma verdade que não esperávamos ouvir e avaliamos imediatamente o modo como reagimos face àquilo que destoa de nosso gosto pessoal ou de nosso modus operandi.

Aliás, são cada vez mais numerosos aqueles que mudam de emprego, de família ou de religião, por não apreciarem a simples verdade, quando dita com clareza solar.

Enfim, só teremos pessoas inteiras e assessores leais ao nosso lado, quando aceitarmos publicamente a verdade, tal qual ditada pelo assessor. E quando decidirmos não a aceitarmos, infelizmente, correremos o risco dever reduzido o número de pessoas leais ao nosso redor e ampliado o número das pessoas sorridentes e legais. A situação agravar-se-á mais
se descobrirem que, por vaidade, preferimos ouvir apenas aquilo que nos agrada e do jeito que nos apraz em “nosso reino".

Haveremos, então, de concordar com o general português Belchior Vieira, especialista em liderança militar, que escreveu: “O dano provocado por uma falha de lealdade é
tremendo”;
e, por isso, ele aconselhava sistematicamente a cada militar lusitano: “Sê leal para com os teus superiores e subordinados... A lealdade é uma estrada de dois sentidos” 2. Com
estes importantes conselhos, enfrentemos a nossa grande semana acadêmica.

Com lealdade, coesão e vibrante camaradagem, venceremos juntos! Deus abençoe a todos nós!


DEUS SEJA LOUVADO
Padre Uyrajá LUCAS Mota Diniz - Cap SAREx
Capelão Militar da AMAN


2 VIEIRA, Gen Belchior, Liderança Militar, Lisboa: Estado Maior do Exército, 2002, p. 42 e 95.

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