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"Entendendo as Críticas" - Pr. Émerson Couto Profírio - Capitão

  • Publicado: Terça, 02 de Mai de 2023, 19h14
  • Última atualização em Terça, 02 de Mai de 2023, 19h31

Conta-se a história de um funcionário que costumava andar pelos corredores da empresa em que trabalhava destilando sua insatisfação em forma de crítica ao seu chefe. Sempre que encontrava um dos seus colegas, não perdia a oportunidade de dizer: “Se eu fosse chefe faria tudo diferente”. Achando-se cheio de razões, ele preparou uma vasta lista contendo todas as suas observações sobre a empresa. Assim que teve oportunidade, procurou o seu chefe e começou a falar: Chefe, preciso conversar com o senhor, pois tenho algumas críticas a fazer. Está bem – disse o chefe – vamos à minha sala e lá conversaremos. Mas, antes disso, gostaria que você me acompanhasse num dia de trabalho. As demandas não paravam de chegar à mesa do chefe. Contas a pagar, ordens a dar, conflitos a resolver, tudo isso acompanhado por inúmeros telefonemas comerciais, cobranças externas e demandas familiares. O chefe mal tinha tempo para se alimentar. No final do expediente, o chefe chamou aquele funcionário e disse: Pois bem, meu amigo, o que você gostaria de me dizer? Ao que o funcionário, constrangido, respondeu: Olha, chefe, não tenho mais nada a dizer ao senhor. Está tudo bem, obrigado por todo trabalho dedicado à empresa.

            Alguém já disse que criticar é mais fácil do que fazer melhor. Este pensamento parece ter ganhado ainda mais notoriedade em tempos de autoexposição. Conforme falou, há poucas semanas, o Gen Tomás, Comandante do Exército, “o uso das redes sociais potencializou o acirramento dos ânimos”. Opiniões brotam de todos os lugares em uma velocidade jamais vista em toda a história humana. Julgamentos são feitos sem qualquer base crítica ou reflexão acerca das consequências de cada palavra. Basta um simples descontentamento pessoal para que os fogos da artilharia digital caiam impiedosamente sobre outrem.

Os ânimos sempre acirrados geram palavras que abatem pessoas, inibem talentos e frustram relacionamentos. Diante deste cenário belicoso, urge a todos nós adestrarmos as nossas habilidades de lidar com a crítica, aprender a identificá-la e fazer a devida filtragem. Não podemos permitir que opiniões descompromissadas, feitas a partir de uma leitura parcial ou, simplesmente superficial, sem qualquer base realística concreta, seja o gatilho para as nossas ações. Quem tem esta realidade bem definida diante de si jamais temerá as críticas, até porque se sabe que qualquer julgamento ou opinião que não tem por base uma verdade não passa de mero comentário, aquilo que o senso comum convencionou chamar de “crítica negativa”, mas, que em seu sentido original nada tem a ver com a crítica.

O conceito de crítica encontra na Grécia Antiga o seu nascedouro. O vocábulo grego kritikê denota a ação de “distinguir”, “julgar”, “avaliar”. Em outras palavras, criticar é a capacidade de discernir algo. Portanto, a crítica genuína, ao invés de escravizar indivíduos, é fator preponderante para a sua liberdade. Esta é uma habilidade que devemos desenvolver continuamente, aquilo que chamamos de senso crítico. O sábio Salomão disse que este senso crítico deve ser algo pelo que o homem justo e perfeito deve procurar e a que ele não deve temer. Assim ele escreveu: “O coração do que tem discernimento adquire conhecimento; os ouvidos dos sábios saem à sua procura” (Provérbios 18.15).

O homem de bem não só busca desenvolver a capacidade de criticar, como, também, aceita com humildade a verdadeira crítica da qual é alvo, aquela que nasce de um interesse genuíno pelo seu bem e pela sua correção de conduta. Salomão escreveu ainda: “As feridas feitas por um amigo sincero são melhores que os beijos de um inimigo” (Provérbios 27.6). Todos nós sabemos muito bem o que este Provérbio quer ensinar, pois foi com este mesmo senso crítico, compromisso com a verdade e lealdade que, por exemplo, tivemos algumas das nossas atitudes criticadas e corrigidas pelos nossos pais e pelos nossos instrutores. Da mesma forma fazemos com os nossos filhos e com os nossos Cadetes a fim de que os ajudemos a discernir as suas ações, colaborando assim com o seu desenvolvimento emocional e moral. A crítica verdadeira é sempre edificante ao homem.

Portanto, mantenhamos sempre a impulsão sem jamais nos abatermos com quaisquer palavras que não demonstrem sincero interesse pelo nosso bem, o bem de nossa família e o bem de nossa instituição. Quem sabe o que somos, em que cremos e o que fazemos sabe da responsabilidade que temos e do nosso valor. Não deixemos que comentários alterem o nosso azimute. Cuidemos sempre do nosso caráter e a nossa conduta será sempre a nossa defesa.

   

“No bom combate da fé!”

Pr. Émerson Couto Profírio – Cap

Capelão Militar da AMAN

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