O MAGISTÉRIO DA LIDERANÇA- Mensagem do Capelão Militar
Mensagem do Padre LUCAS, Capelão da Academia Militar das Agulhas Negras, em 02 de outubro de 2023
"Por que não ouvi a voz de meus mestres, nem dei ouvido aos meus educadores?" (Provérbios 5,13)
Neste dia festivo dos Anjos da Guarda, exalta-se na Força Terrestre o Quadro Complementar de Oficiais que, desde os anos 80, assessora, com desembaraço e competência, os comandos das organizações militares no âmbito da Administração, Ciências Contábeis, Comunicação Social, Direito e Magistério. Inaugura-se ainda um mês emblemático aos navegantes dos mares do ensino e da educação, motivando todos os servidores da mais patriótica Escola de Valores do Brasil.
No Brasil, o próximo dia 15 despertará sentidas memórias afetivas em todo brasileiro letrado e ensejará as mais justas homenagens aos nossos virtuosos Professores. Desde 1995, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) fixou o dia 5 de outubro como Dia Mundial do Professor. Duas efemérides que incentivam a promoção de estratégicas de elevação da qualidade docente no mundo e despertar as novas gerações para o exercício da profissão mais imperativa da história.
Interessante é que, ao criar o Dia do Professor, a Lei de 15 de outubro de 1827, permitiu ao Imperador D. Pedro I estabelecer para o Brasil recém-independente a obrigatoriedade de escolas primárias, vinculando-as ao dia de Santa Tereza D’Ávila, mestra e doutora na vida espiritual e Padroeira dos Professores, para quem o saber só goza de utilidade duradoura quando conduz o estudante à perfeição moral e à santidade de Deus, lídimo ideal da vida heroica. Inegavelmente, foi-se o tempo das “Escolas de Primeiras Letras” idealizadas em épocas imperiais, mas Lei Estadual 174, de 1947, permitiu ao estado de São Paulo lograr o pioneirismo no merecido reconhecimento aos mestres do saber. Sabemos como a comissão originária desta Lei, presidida pelo educador Salomão Becker, tornou-se famosa pela célebre frase do líder pedagógico: “Ser professor é profissão, ser educador é vocação”. Parafraseando-o diríamos que ser integrante da Divisão de Ensino ou Instrutor no Corpo de Cadetes é perpetuar o heroísmo militar, o que requer garra, talento e graça.
Eis a ocasião propícia, sugestiva às emoções, para a releitura da vocação magisterial e da ação educacional dela decorrente, as quais podem ser elevadas a um padrão de rara excelência, por cuja causa urge-nos aprimorar o zelo pedagógico e a eficácia dos vários processos de ensino e aprendizagem sob nossa responsabilidade.
O antigo capelão da Academia de Saint Cyr, Padre Gaston Courtois, consignou em sua obra A Arte de ser Chefe, um princípio que nos impele ao aperfeiçoamento dos professores e instrutores das sucessivas turmas de jovens cadetes forjadas em nossa singular escola: “O verdadeiro chefe não é o proprietário de uma espécie de talismã reservado para seu uso; é, sim, um despertador de semelhantes. (O verdadeiro chefe) rejubila-se por desenvolver em torno de si a iniciativa, a lucidez, o espírito de decisão naqueles que eram, ainda há pouco, crianças diante da vida”[1]. Sim, o capelão transborda em razão, pois, para formar os mais jovens é preciso ouvir na alma um sacrossanto chamado vocacional a esta missão superior. Sempre haverá a demanda por mestres e guias sábios, prudentes e generosos.
Ser educador, despertador de semelhantes e desenvolver em outrem o espírito de liderança mediante a arte da decisão são nossas mais augustas tarefas, porque nossos sucessores deverão ser líderes munidos de maior lucidez e de iniciativa ágil, conhecedores profundos das questões que tutelam e capazes de abordar, com inteligência oportuna, as soluções eivadas de máxima efetividade. Tudo isso reflete-se positivamente no mundo VUCA, BANI ou PSIC, conforme a sugestão do Gen Ex Richard, Chefe do DECEx[2].
Infelizmente, muitos profissionais da educação hodierna, embora gabaritados com graduados títulos, mostram-se intelectualmente desorientados e atuam de forma enfermiça por conta de ideologias, vícios e desvios culturais alojados em suas almas. Isso também deve ser levado em conta na escolha e nomeação de professores e instrutores para o nosso Sistema de Educação e Ensino. Um professor ou instrutor culturalmente e moralmente debilitado será sempre um obstáculo aos objetivos do Exército Brasileiro e da nação brasileira.
Temos, assim, diante do coração, faustos motivos para gravar na memória aquele bilhete de São Bernardo de Claraval a seus alunos. O eminente doutor da teologia espiritual escreveu-lhes:
"Existem aqueles que buscam o conhecimento por causa do próprio conhecimento, isso é mera curiosidade.
Existem aqueles que buscam o conhecimento para serem reconhecidos pelos outros, esta é a pura vaidade da soberba.
E existem aqueles que buscam o conhecimento para servir, e isso é simplesmente amor”.
Então, já que “somos a esperança de um Brasil inteligente”[3], professemos nossa fidúcia na disciplina prestante dos bons estudos e na singular intelectualidade castrense. Isso é simplesmente amor!
Que Deus abençoe os distintos Oficiais do Quadro Complementar, fortaleça os nossos caros Mestres, conceda a plena saúde aos baixados e cumule de sucesso nossa semana de amores e labores. Assim seja!
DEUS SEJA SEMPRE LOUVADO
Padre Uyrajá LUCAS Mota Diniz – Maj SAREx
Capelão da Academia Militar das Agulhas Negras
1 COURTOIS, Gaston. A Arte de Ser Chefe. Rio de Janeiro/RJ: Editora Biblioteca do Exército, 1984, nº 407.
2 Departamento de Educação e Cultura do Exército - https://eblog.eb.mil.br/index.php/menu-easyblog/blogger/gen-div-richard.html.
3 Canção da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN).