Ir direto para menu de acessibilidade.
Página inicial > Últimas Notícias > Mensagem do Capelão Militar (Padre Lucas)
Início do conteúdo da página
Últimas notícias

Mensagem do Capelão Militar (Padre Lucas)

  • Publicado: Quinta, 19 de Outubro de 2023, 13h56
  • Última atualização em Quinta, 19 de Outubro de 2023, 13h57
FORJAR MILITARES GENIAIS - Mensagem do Padre LUCAS - Capelão Militar da AMAN

 

Mensagem do Major Padre LUCAS

Capelão da Academia Militar das Agulhas Negras, aos 17 de outubro de 2023

 
“Doa ao sábio: tornar-se-á ele mais sábio ainda; ensina ao justo e seu saber aumentará."

Livro dos Provérbios 9, 9

 


Existiria, porventura, algum método para fabricar profissionais geniais em áreas específicas da vida social?

Em 1970, um psicólogo educacional húngaro, autor de 20 livros, chamado László Polgár decidiu provar a todos que os gênios não nasciam geniais, mas eles eram criados, forjados, aprimorados[1]. Com um plano inusitado em mente, László anunciou ao mundo sua hipótese cientifica: a de que seus futuros filhos, ainda não nascidos, seriam educados para se tornarem mestres em xadrez2. Uma professora local chamada Klara, também empolgada com a mesma ideia, decidiu apoiá-lo. Casou-se com ele e tiveram três lindas filhas. Apoio indispensável, diga-se de passagem, para a obtenção do resultado do raro estudo científico! Um caso típico do slogan: “Tudo em nome da ciência!”

A estratégia do pesquisador era razoavelmente simples: criar uma cultura familiar que valorizasse o xadrez acima de outras formas de lazer e criatividade, priorizando o jogo síntese de inovação criativa, rico em propósitos e habilidades. As irmãs Susan, Sofia e Judith, suas filhas, passaram a conviver, do nascer ao pôr-do-sol, com aquela atmosfera de inteligência competitiva, de mútuo incentivo, de atenção, lógica, raciocínio e estratégia, facetas típicas deste jogo indiano, chinês e persa.

A casa da família foi organizada para a pedagogia vislumbrada: ali havia muitos livros sobre xadrez, brinquedos de figuras do tabuleiro, fotos de jogadores famosos nas paredes e vários tipos e tamanhos de tabuleiros espalhados pela sala, pelos quartos, cozinha, área de lazer e até no carro. Partidas após partidas habitavam harmonicamente com os cinco moradores! Passou-se a respirar o xadrez, desde a mais tenra infância da primeira criança ali nascida. Vale registrar que aqueles amorosos pais, longe de serem aventureiros pedagógicos, foram ainda professores de alemão, inglês e matemática aplicada para as três meninas. Não demorou para que as três herdeiras se tornassem lendas como mestras no jogo, alcançando o nível de grã mestras de xadrez, logo na primeira adolescência. Na escola, eram alunas destacadas e conseguiam ser simples, entrosadas e alegremente comunicativas, contabilizando muitas amizades. Uma combinação de graça, beleza, interação, inteligência e foco acentuado.

László e sua esposa Karla intuíram e provaram que  a disposição e qualidade do ambiente circundante, bem como o equilíbrio psíquico e a maturidade emocional dos educadores das novas gerações influenciam, com forte impacto, a qualidade intelectual e afetiva dos filhos e alunos. Como pais e educadores não pretenderam forjar, nas crianças, cópias ou arremedos de si mesmos, mas decidiram colaborar para educar jovens autônomas, afetivamente livres e capazes de traçar suas próprias decisões e atitudes, como jogadoras que julgam bem cada movimento no tabuleiro da vida. Eis um exemplo de respeito à autonomia intelectual de educandos honestos!

Valores claros e inteligentes na microcultura familiar ou organizacional tornam-se, assim, a mão invisível, favorável e benfazeja, a reger os comportamentos educativos.

Evidentemente que a família não vivia apenas para o xadrez, mas fez disso um eixo formativo e pedagógico de excelência intelectual, psíquica e relacional, pois se um comportamento é incentivado como mais excelente dentro de uma cultural, ele será priorizado pelos integrantes dessa mesma conjuntura, sem necessidade alguma de recorrer nem a excessos de punição nem a abundância de recompensas e medalhas. Assim, criar novos hábitos vitais, adquirir virtudes, forjar habilidades e talentos para certo tipo de profissional esperado, torna-se mais fácil do que o imaginado. Por isso, quando um estabelecimento de educação e ensino pretende formar líderes, forjar heróis e fundar dinastias de guerreiros valentes, honestos e exemplares, precisará proteger e divulgar, com vigor cultural, os vetores mais propícios a este glorioso intento.

O Dr. László e sua esposa Klara transformaram-se em verdadeiras referências pedagógicas para o sucesso de suas filhas, não apenas naquele jogo especial, mas, sobretudo, nos campos intelectual, volitivo, emocional, comportamental e social. Filhas inteligentes, livres, maduras e vitoriosas.

Por isso, comovem-nos as razões pelas quais o nosso Manual de Campanha sobre a Liderança Militar trata a questão, quando afirma: “No exercício formal da autoridade pelo comandante, não se trata apenas do cumprimento exterior, mecânico, de ordens, mas de um envolvimento pessoal, interior, nas tarefas realizadas. Pode-se chamar, também, de comprometimento afetivo, pois engloba o campo dos valores, sentimentos e emoções humanas”. Em resumo, eis a síntese da educação para a liderança efetiva e o profissionalismo militar preconizado, por exemplo, pela obra de Samuel Huntington.

Sim, no tabuleiro da profissão militar, há reis e rainhas, cavalos e peões. Mas será muito melhor servir ao lado de gente bem formada, afetivamente normal, honesta, leal, feliz e comprometida com a verdade, a coesão e a vitória. Rogamos, portanto, ao Senhor dos Exércitos abençoe todos os nossos processos pedagógicos, logísticos e administrativos.

Assim seja!

 

DEUS SEJA SEMPRE LOUVADO

 

Padre Uyrajá LUCAS Mota Diniz – Maj SAREx

Capelão da Academia Militar das Agulhas Negras

 

registrado em:
Fim do conteúdo da página